- Coordenação: Marcella Pereira de Oliveira
- Horário: Quinzenal, quintas-feiras das 08:30 às 10:00
- Datas: 13/3, 27/3; 10/4, 24/4; 8/5, 22/5; 5/6, 26/6
- Modalidade: on-line
- Inscrição: nucleo.psicanalise.arte@gmail.com
Em 2025, o núcleo se manterá na questão: Como a arte auxilia a investigar a interpretação, onde o analista, com o seu dizer, mostra um saber-fazer?
Buscar recursos na arte é uma forma de ultrapassar os limites que a teoria impõe, e indagar as linguagens artísticas sobre expressões da subjetividade da época e formas de expressões de singularidades – ou seja, invenções radicais. Assim, a arte pode ser vista em comunicação direta com o que é mais caro à psicanálise lacaniana: a orientação pelo real. Podemos ler as linguagens artísticas como formas de encontrar destinos à pulsão que não cessa de não se escrever.
Para fundamentar uma forma de pesquisa, o núcleo partiu dos conceitos de sublimação e sinthome, os quais foram criados com ajuda da arte. Lacan[1] fala sobre o processo sublimatório utilizando-se da metáfora de um oleiro, quem produz um vaso a partir do vazio. Este vazio pode ser entendido como a própria pulsão que escapa a uma cadeia de representações.
A grande contribuição de Lacan é colocar a sublimação junto ao conceito de real, o qual orienta a própria ética da psicanálise e a diferencia da psicoterapia. Desta forma, sublimação é como uma invenção radical, ou seja, um artifício único, singular, derivado das entrelinhas situadas entre dois significantes (a) – fabricando uma espécie de destino ao objeto condensador de gozo.
Uma orientação pelo real não significa excluir produções de sentidos do tratamento, mas sim não acreditar tanto nelas, já que a psicanálise se interessa mais pelo que não funciona. Nesta perspectiva, um tratamento ao sintoma não depende da decifração de uma mensagem produzida a partir de uma representação – ou do desvelamento de uma verdade; já que o real é irrepresentável. A mudança de nomenclatura para sinthome é pertinente, já que este privilegia a singularidade, ou uma “letra de gozo”, expressão que remete a uma conexão entre o “de dentro” (o gozo) com o “de fora” (a linguagem).
Partindo da premissa de que o significante é causa de gozo, colocada por Miller[2], podemos pensar na interpretação do analista como uma forma de cernir o gozo pelo significante? O núcleo parte desta hipótese, desde que a linguagem seja vista como parasita, ou seja, não se trata de ter um domínio sobre a linguagem, tampouco sobre o gozo; mas sim de tornar visível um aparelho de gozo, marcado no corpo como sulcos. Isto equivale a fazer uma passagem de um gozo desarticulado a um modo de gozo contável, com o qual é possível o analisante se identificar e saber-fazer com ele.
Uma das contribuições de James Joyce[3] ao núcleo, foi sua ênfase em expressões de seus personagens vividas em seus conflitos cotidianos, o que nos ajuda a traçar subjetividades em vivências com o Outro, as quais envolvem um uso da linguagem constantemente refeito e desfaz a ideia de personagens como “estátuas”.
Já Manoel de Barros[4] nos apresentou uma escrita na qual o sujeito (quem pratica uma ação) e o objeto (a quem a ação se dirige), aparecem entrelaçados, de forma que o fato em si – ou seja, o real – predomina sobre uma verdade. Esta espécie de reversibilidade entre sujeito e objeto pode ser interpretada como a reversibilidade existente entre falasser e linguagem em permanente constituição, um afetando o outro; ou, de forma mais simples: “o de dentro” e o “de fora” afetando-se mutuamente.
Além destes escritores, o núcleo tem se dedicado à linguagem visual da fotografia[5], com enfoque para tendências da fotografia atual, em paralelo a um estudo sobre surrealismo[6], menos como uma corrente artística e mais como uma tendência a um certo modo de vida, o qual inclui deslocamentos em relação à representação da realidade pelo sentido óbvio; assim como inclui doses de absurdo, de humor, de imaginação e de nonsense. Apostamos que este estudo pode contribuir para este caminho da interpretação, direcionado à busca de formas de expressões de singularidades.